Desde pequena, eu danço na frente do espelho.
Menina pequena, a música minha musa, era minha grande anfitriã, enquanto a alegria me fazia encontrar todo o mundo de júbilo em mim.
Mal sabemos que tem cenas que profetizam toda uma vida.
Sei por sabido da vida, que o que manteve viva por todo tempo que tive que negar a mim mesma, foi a menina que dançava no espelho.
Pois que de pouco a pouco como nos filmes, ela perdida no espelho da minha infância, começou resoluta e corajosa a invadir o lado de cá.
Um dedo na superfície do espelho um dia;
Um braço; o ombro.
Um dia quando a mulher adulta já sabia que a verdadeira dança da vida se dança só, ela a menina que dançava, tomou por conta uma coragem sem tamanho e saiu do espelho, pediu permissão, e voltou pro seu lugar.
A menina voltou pro meu peito.
Foi bem agora, nesses últimos tempos que eu subitamente percebi que eu quero, como a menina;
dançar com a vida;
Não com alguém;
Não sozinha;
Com a vida;
Dama da minha companhia, companheira da minha alegria;
A vida;
Tirar ela pra dançar ininterruptamente, uma música após a outra;
E foi tão verdade que a menina voltou e que eu tirei a vida pra dançar, que quem viu, viu a alegria de viver feito momento.
Não tem mais hora, a vida pra mim é o grande baile que me chama.
E até o fim dela, eu vou desnuda de vergonha, desvestida de pudor, sem ouvir o que me dizem:
Dançar, o tesão de ser livre como mulher e poder viver.
A menina sabia que seria assim, a sua também sabe.
Confia.